“Imagine um mundo onde a maioria das organizações fossem o melhor lugar para se trabalhar. Imagine o que poderia estar sendo feito no planeta, se isso fosse verdade”. A frase escolhida para abrir meu artigo é de Karen May, VP Desenvolvimento de Pessoas da Google.

O objetivo é alimentar a imaginação de vocês com tudo que aprendi sobre a melhor empresa para se trabalhar, por anos consecutivos, de acordo com a Great Place to Work, em minha visita de benchmarking no final de setembro. Vale lembrar que a pesquisa do GPTW é respondida, em grande parte, pelos funcionários, que avaliam o clima geral da empresa entre outras coisas.

Que a Google é reconhecida internacionalmente por isso todo mundo sabe. Mas o que ela faz de diferente para conquistar essa posição e se manter lá? Pensando por este lado, um questionamento é pertinente: qual é a relação entre produtividade e bem-estar? A Google, por ser uma empresa de tecnologia, tinha tudo para ser mecanizada e com processos sistematizados, mas o paradoxo é que ela se diferencia das demais, justamente por valorizar o olhar humano e estimular o desenvolvimento, considerando a entrega de resultados.

Uma empresa aberta não só a visitas, mas às sugestões de todos os 46.000 funcionários espalhados pelo mundo. O que possibilita isso é o pensamento de “missão, transparência e opinião, impulsionam nossa cultura”. O acesso às agendas dos colaboradores é liberado para todos os funcionários que podem agendar uma reunião, mesmo à distância, com qualquer googlers para falar sobre ideias e pensamentos (sim, eles têm uma identidade própria, já que atuam em um ambiente único e diferenciado).

Falando em ambiente, que tal trabalhar em um lugar que oferece café da manhã, almoço, lanche da tarde e minicozinhas que disponibilizam, o tempo todo, uma enorme diversidade de comidas para agradar a todos os paladares das diferentes etnias que trabalham ali, com base em uma filosofia de respeito às pessoas, mas dando caminhos para facilitar a escolha saudável, já que oferece frutas frescas de todas as regiões do país, além de chocolates. Ok, comida pode não ser tão importante para as pessoas, como é na minha cabeça, mas vamos lá, outros diferenciais são o design do local de trabalho e Perks (Privilégios). Se o “core”, ou seja, o principal negócio da empresa necessita de criatividade, faz sentido ter tantos ambientes informais e inspiradores, que vão desde jogos de videogames, mesas de sinuca, salas para meditação e descanso, arvores nos centros das mesas, andares temáticos de super-heróis à biblioteca, além da permissão para levar seu cachorro ou mesmo liberação para home office, sem política definida.

O objetivo da Google é “Organizar a informação do mundo e torna-la universalmente acessível e útil”.

O interessante é que cada funcionário, compartilha da cultura e dos valores da organização nos quatro cantos, de forma internalizada e espontânea. Assim como lançam a frase “Comece e depois melhore”, dando incentivo à criatividade, onde é importante tentar e testar quantas vezes forem necessárias para se conseguir a inovação. E se der errado? Aprendem com o erro e refletem sobre o que poderiam ter feito para que desse certo. Um lugar onde as pessoas são estimuladas a fazer algo incrível – moonshots – ou seja, atirar para a lua. Assim, os produtos criados são lançados internamente e os funcionários de todas as posições e países podem opinar sobre suas considerações e sugestões de melhoria, já que receberem os produtos em teste, com o aviso de confidencialidade e reforço de que a empresa confia em cada um e tem a certeza que aquilo não será compartilhado. A confiança, é sem dúvida, outro grande diferencial.

Como consultora de Recursos Humanos, eu não poderia deixar de escrever sobre o tão admirado RH da Google para ajudar meus colegas e profissionais da área a se inspirarem para novas ações. Começando do começo, o Recrutamento e Seleção é considerado a coisa mais importante que se pode fazer. A atividade é priorizada e conta com o apoio de todos os gestores. Para concorrer a vagas, onde a diversidade importa e “a diferença faz a diferença” os canais são: recrutamento interno; site da google.com/jobs; Sourcing (ex. LinkedIn), programas universitários ou indicação de funcionários, já que eles sabem quem é bom no mercado.

A trajetória de carreira não é óbvia. As contratações levam em conta a possibilidade de transições e por isso, as escolhas são feitas pensando também no futuro. Para “ser o escolhido” o candidato precisa apresentar: Capacidade Geral Cognitiva para propor soluções e resolver problemas diversos, Conhecimento Específico da Função, Competência de Liderança, não só de pessoas, mas de projetos e possuir a característica Googleyness, ou seja, capacidade de adequar-se à cultura da empresa, entregando resultados, a partir de uma postura colaborativa, que desafia o status quo e age em prol do usuário e não em benefício próprio. Tudo isso será avaliado em softwares próprios e perguntas por competências para se encontrar a evidencia dos comportamentos desejados.

O martelo é batido por várias mãos em um comitê independente de aprovação. Falando em decisão, todas as deliberações a respeito das pessoas são baseadas em ciência e dados, responsabilidade da área People Analitics.
No que se refere ao Treinamento e Desenvolvimento, os googlers são avaliados constantemente na gestão de performance e desenvolvidos para dar e receber feedbacks, além de treinamentos constantes em temas diversos ligados a novos produtos, processos e comportamentais, que podem ser virtuais, tipo Team Building e presenciais, simultâneos a várias partes do mundo, ministrados por convidados ou por funcionários internos “googlers to googlers”.

Na área de Benefícios, a remuneração agrega outros diferenciais e está presente na lista do que mais motiva os funcionários neste sistema de meritocracia. Atende as pessoas em diferentes momentos da vida, como a maternidade, aposentadoria ou estudo em MBA, oferecendo sob formato de responsabilidade compartilhada o melhor plano de saúde e atendimento em hospitais de referência, atendimento psicológico de qualidade, premiações, apoio a programas voluntários, uma vaga na garagem do prédio mais luxuoso da Avenida Faria Lima, sede da Google em São Paulo etc, etc, etc. Não posso deixar de citar o reconhecimento, que não onera a organização, mas exerce grande incentivo, com a confecção de uma espécie de certificado de gratidão digital, pela ajuda em um projeto ou ação, que é concedido de funcionário para funcionário, em qualquer nível hierárquico e pode ser impresso e exibido a quem desejar.

E se cada googler tivesse um gerente incrível? Gerentes importam, e muito! Neste caso, o papel do RH é educar e prover aos gestores todas as ferramentas e conhecimentos para que eles possam ser um líder e bom coaching para equipe.

Liderança aqui não é posição, é reconhecimento, e por isso, esse gerenciamento pode ser medido. Para a Google, as características que faz um grande gestor é:
1 – É um bom treinador (coach)
2 – Empodera sua equipe, e não microgerencia. Seu funcionário não precisa ser um “mini-você”, delegue e acompanhe, respeitando as diferenças.
3 – Mostra interesse e preocupação com o sucesso e bem-estar dos membros da equipe, mantendo o time motivado.
4 – É produtivo e orientado para resultados, mas entendem a importância da colaboração.
5 – É um bom comunicador e sabe passar a mensagem para o time, sendo um representante da empresa.
6 – Ajuda com o desenvolvimento da carreira, incentivando a migração para outras áreas e oportunidades.
7 – Tem uma visão estratégica clara para o time.
8 – Tem habilidades técnicas relevantes que o ajudam a orientar o time (não se espera um especialista, e sim, alguém com visão geral).

Em algumas linhas, espero ter conseguido compartilhar minha experiência e contribuir com a cultura de transparência da Google, facilitando a divulgação de conhecimentos que podem fazer a diferença na vida das pessoa e organizações. Diante de tudo que foi visto, se me perguntarem: “o que torna a Google um ótimo lugar para se trabalhar? ”, sem dúvida alguma, eu responderia: o que pode fazer qualquer empresa se destacar, ou seja, as pessoas e a cultura de um ambiente que valoriza e extrai dos colaboradores o que eles têm de melhor.